Olhando o mar, sonho sem ter quê,
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê:
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
Do que servem a verdade e a fé?
Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em mas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos, sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas, da floresta
Parecem, por longínquas, estar em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
Se tive amores. Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas?Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas> Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar dr o haver?
(Fernando Pessoa).
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