O mar é teu espelho e contemplas a mágoa
Da alma no desdobrar da sua água,
E nem teu ser é menos acre ao se abismar.
Apraz-te mergulhar em tua própria imagem;
O olhar o beijo e o abraço o abraço, o coração
No seu próprio rumor encontra distração,
AO ruído desta queixa indómita e selvagem.
Mas ambos sempre sois tenebrosos e discretos:
Homem, ninguém sondou teus profundos abismos,
Mar, ninguém viu jamais teus tesouros íntimos,
Porque muito sabeis guardá-los secretos!
Porém passados são séculos inumeráveis
Sem que remorso ou pena a vossa luta corte,
De tal modo quereis a crueldade e a morte,
Ó eternos rivais, ó irmãos implacáveis!
De, Charles Baudelaire.
NOTA:Charles Baudelaire - (Paris, 09 de Abril de 1821 - Paris, 31 de Agosto de 1867)
Foi um poeta e teórico da arte francesa... É um dos precursores do Simbolismo e consi-
derado pai da poesia moderna...
By BZ.
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